26.8.05

ROCHA

Tinha nela uma presença de consistência atemporal. Ou eterna.
Agigantada, pétrea.
Impossível desbastar, impossível desbastar!
Era apoio para amarrar os sapatos, ou mesmo limpar os pés.
Fazia sombra. Podia ser recostada.
Em sua superfície de aparência carbônica, tomava impulsos para meus vôos.
E repisava suas reentrâncias em meus pousos de emergência, agredindo, por vezes, a fauna local.

Mas tudo vira pó.
Uma explosão, a radiação, o vento, o terremoto - um dia chega.
Quando fui ver, não estava mais.

14.8.05

MÁGOA

Que o amor mande embora
a mágoa que hoje mora
no peito do meu bem.

13.8.05

COISAS

Há coisas que aborrecem.
Há coisas que chateiam.
Há que coisas que fazem perder a calma.
Há coisas que fazem perder o controle.
Há coisas que fazem pensar que o esforço em mantê-las não vale a pena.
Há coisas que desanimam.
Há coisas que entristecem.
Há coisas que não têm graça.

E há as coisas que arrasam.
As coisas que derrubam.
As coisas que fazem tremer a alma.
As coisas que fazem perder o sentido.
As coisas que fazem pensar que todo esforço para evitá-las teria sido pequeno.
As coisas que paralisam.
As coisas que deprimem.
As coisas que não passam.
E que não têm perdão.

8.8.05

FINDO

Contei o que houve para o Destino
e ele desatou a chorar.

4.8.05

RESTOS

Sempre pareceu impossível compreender um mal-estar que sinto na parte da manhã. As pessoas me parecem diferentes, estranhas. Seria a luminosidade peculiar? O restolho de sono?
Não.
Descobri que me dá nojo a impressão de que as pessoas acabaram de cagar.

2.8.05

AMANTES

Neste exato momento, há mil amantes
sentindo-se amadas
por mil canalhas.