29.9.05

EXAME

Fui fazer um exame hoje de manhã e constatei, para minha total surpresa, que meu sangue não é vinho, mas magenta escuro. A enfermeira pareceu não ligar, ou nem perceber, pois o enfiou numa ampola translúcida e sequer se deu o trabalho de chorar por mim.
Nem precisava fazer o exame; eu estava com câncer, e devia ser terminal. Sangue magenta é câncer, e terminal.
Só falta o xixi ficar bege.
Aí, eu corro pro hospital, sem ambulância, pocototó-pocotitó, e vou me desfazer pela rua, cortando as solas dos pés nos cacos de minhas próprias unhas. Aí, quando chegar lá, não vou ser mais. Vou rir à beça do médico me procurando, como fantasma que serei. Pegarei um copo com 200ml de água e atirarei no rosto do médico, bem no meio dos óculos, pra embaçar. Aí, vou pro céu, e não quero zoeira, porque eu quero dormir.

5.9.05

ESPINHOS

Pois foi então que protuberaram dois pequenos espinhos nas vesículas biliares dos homens a cujas esposas costumavam acorrer os energúmenos mais lascivos.
E fez-se um sol de encharcar a fronte da noite de vergonha, principalmente ali, na cidade grande, onde a referida dama se adornava com parcos faróis de estrelas.
E o abuso se tornou unívoco ao açoite. Pudera; trajava a noite uma bata que externava contradições.
Ninguém por ela andasse despreocupado, muito menos sem camisa. Hoje o orvalho seria ácido corrosivo.
Entranharia as peles, só por vingança, a lhes ensinar a dor.
Porque pouco importava que fosse corna; mas preterida, nunca.