16.4.07

TATARAVÔ

Meu tataravô era uma bactéria extraterrena. Viajou encapsulado num berço de minérios por uma porção ínfima da vastidão, o acaso trazendo-o a esta atmosfera privilegiada, onde puderam nascer meus avós, pais e filhos.
Tivesse alma, e o impacto talvez pudesse tê-lo traumatizado mais profundamente, às entranhas. Mas era incomensuravelmente pequeno, faltando bem pouco pra ser nada mesmo. Era simples por demais, não lhe cabendo, portanto, desenvolver complexos.
Mas logo foi se reproduzindo, imoderado que só ele, sem qualquer cerimônia, como se a nova Terra não lhe fosse estranha. Há quem não defeque em casa alheia, que o diga trepar. Mas o velho-bactéria, ah este não. Mal chegou e já foi fazendo amor. E seu amor seria o mais importante de todos, pois daria origem a tudo que ali já havia. E fez esse amor com ninguém além de si mesmo, masturbatório, roçando em prófases e anáfases as zonas erógenas do seu DNA.
Breve como semente fecunda, morreu antes de testemunhar a disseminação de sua descendência por todos os recônditos do planeta.