7.12.09

REDENÇÃO

Por trás de cada fracasso,
a esperança de uma ajuda final redentora

15.9.09

MUDA

É inescapável a transformação. A ação humana a garante e inscreve no existir.
A verve ardilosa dos canalhas, o aviltar insidioso dos criminosos não são páreo à fugacidade do tempo.
Abaixo o requiém! Fim às inúteis odes aos idos!
A novidade do futuro virá sempre e branca e toda, a aparvalhar todas gentes.
As longas pernas dos anos criaram varizes, mas hão ainda de se prestar a atropelar a vã filosofia, em nome do porvir.

27.8.09

E BEL?

Onde está Bel?

Na avenida, na esquina, no reino mágico de Oz?

Onde está Bel?

Em São Paulo, Praga, Paris, Oróz?

No monte mais alto, na fria altitude?

Na quentura do inferno, no açoite do diabo?

Em Pasárgada ou na Marambaia?

Voltará a tempo das festas? Verá o verão por aqui?

Terá abrigo no inverno?

Estará no campo ou na praia?

Comendo sapo ou siri?

Seiva bruta ou frango com farofa?

Será galhofa ou esquecimento?

Estará com as putas a rir-se?

Estará nas últimas, e triste?

Tornará depressa? Demorará ainda?

É finda sua história ou Deus ouvirá nossas preces?

Virá de noite ou de tarde?

Antes que raie o dia?

Será marketing ou Alzheimer?

20.8.09

PROVISÃO

Finjo mais um sorriso enquanto tento sinceramente ser feliz
Amanhã serei melhor, me diz o agora, lívido, querendo ir embora
Falta o chão? Pois que falte. Ruína sempre haverá.
Sair de mais essa, simbora.
Deus provê? Deus proverá.

27.4.09

ANGÚSTIA

A angústia vai lá embaixo e a garganta quase desce traquéia adentro, diminuição de seu calibre. Andorinhas fugidias e obesas fazem já sua primavera, enquanto os sabiás gorjeiam e gozam a vida como podem. Como eu, que no caso soubera de um acaso recente, ainda amanhã, e resolvera dar parte de tudo na polícia das almas.
Máscaras de cobre se amarram com fios de nylon, assoberbam o aspecto fúnebre do rosto, o mórbido da gênese, o renascido do inferno em vida.
Sei, como Hilda, que nem tudo faz sentido, nem deve de fazer. Leia o sonho, ainda mais o sonho, ou a palpitação se faz diáfana por si. Quase não durmo, o corpo finge. Mas quem disse cansaço? Disse e repito: angústia.
Sabe o que é?

24.4.09

MUNDO DA VIDA

De volta ao mundo da vida, após ligeiro exílio nesta longa e chuvosa sexta-feira de outono austral.
A mãe ainda é jovem, mas quase deixa de parecer. Não pode segurar a mão de todas as crianças para atravessar. A avó (ou seria apenas uma amiga mais velha da mãe?), estranhamente, não ajuda. Os pés me voltam à mente, junto com aquele texto que escrevi há muito tempo. Há feira ainda no mesmo lugar.
A garoa aperta. Dará tempo?
Por um instante, não importa. A rua agora parece calma, até distante, apesar do vaivém. A chuva umedece o asfalto, dando sensação boa: talvez um cheiro (ah, se eu pudesse sabê-lo...)

O inesperado só me atinge no mundo da vida, na rua. É lá que tudo acontece, no correr do sangue do existir público, pelas veias e artérias dessa malha urbana.

23.4.09

DITO

A chuva não me molha
Porque ziguezagueio
Me chame “senhor”
Que oi é breque de boi!

Respeito não se põe à mesa
Com um copo de vinho barato
É especiaria das Índias
Voto de união sagrado

A inércia de meus músculos tesos
É a falta de um sentido dado
A procura me fez este: seco
Um abismo querendo buraco

E fica assim:

O dito pelo não falado

CAIM

Um cheiro de sangue vívido
Incita a verve pecaminosa dos homens
A ira de Deus é misericórdia
o desgosto paterno é sem fim
A hipocrisia: “não somos culpados! não somos culpados!”
Repete-se da história através

O assassinato e sua negação
O que fizeste, Caim?
Os sangues de todos os descendentes, no porvir, clamam até Mim
Todos os que seriam e não mais serão, bradam, no nada, por Mim
O preço da tua desforra ilumina a humanidade inteira
As vinganças dentro das eras, a irmandade intrínseca
O fratricídio primeiro
é também suicídio
O berço da civilização
Pode ser seu sepulcro

7.4.09

PAIXÃO

No prolegômeno da análise de tua alma
desejo de acesso ilimitado a uma paixão banda larga
dissonantes, meus acordes machucaram teu ouvir roteado
e no consolo magistral de uma Tebas radiosa de fibra e cobre
te fizeste tinhosa, como sabias me encantaria
pirada, como sempre quiseste
e soubeste falha a tua febre
soubeste meu teu corpo de partida
teu meu arrazoado típico, de infante que se crê maduro

e choraste, como não mais podias
subiste ao cume, caíste fundo, à intimidade do abismo
morreste um pouco, e apenas outro tanto
já que espúria seria tua glória afetada
ao declamares tua mortal toada
se teu rabo gordo de sereia, eclipsado pela voz meio soprano
não descobrisse tua réstia de honra, lavada

clique aqui para não saber de nada
clique aqui para fazer-te de surda
às favas com tais embustes

clique aqui para seres amada

6.4.09

MOLEQUE

s'imbora guri
menino da hora
desgrude da bola
que o medo te abraça

fosse bom o conselho
não se dava de graça
ouça o desespero
besteira nao faça

moleque maluco
malandro pirraça
pareces agora
o bobo da praça

27.3.09

IDADE

Não deixe o pensar te enganar
Apenas veja:
Todos morrem com a mesma idade
Com qualquer idade que seja

Desse absurdo não fuja pela lógica
Não rejeite por qualquer operação do intelecto
Não cogite
Cuspa esta veleidade
Abandone aquela pérfida à míngua
Cuidado: a razão menos revela e mais omite
Escape pela culatra do sexo
Aos berros, se quiser,
Mas perceba:
O tempo é o anjo de guarda
A cada um, dá de passar diferente
Vagaroso, sonolento, frouxo
Ansioso, ríspido, insolente
Não olhe o relógio
Não repare o calendário
Antes de tais invenções
O tempo já havia
Gente já se morria, já se amava
Já se entediava, gente se enternecia

Antes de haver documento
Nada era mais rápido
Tampouco mais lento
A natureza é si mesma
Desde a aurora primeira
Mas então só se sabia do tempo
Como seqüela da verdade
Revelada no Éden a Eva
De que todos morrem com a mesma idade

11.2.09

SAUDADE

É tanta dorzinha somada
É problema pra respirar, a angústia
É a tontura, a ansiedade
É o aperto no peito, a saudade

Vontade de não ver – é certo, e é justo
Então, dou uma volta
Faço que nem é comigo
E vôo pelos ares, à estratosfera
Ao oceano de nada que circunda toda existência
E a substância do Universo
(tomara Deus)

Ou quem sabe a diversão pornográfica

26.1.09

ZEN AVESSO

A ênfase maior é no desespero
Na sensação de que algo podia ter sido diferente, e não foi
No mais, é o desejo profundo e a busca pelo amor espontâneo
Que venha dos homens
Que venha da vida
Amor que venha do mundo todo,
como auto-estima às avessas

respostas são inúteis
nunca houve pergunta
nada me esclarece o mistério
desse outro indissociável de mim