15.5.07

MOLAMBO

Ô, molambo episcopal, às favas com a gratitude! Joga esse escapulário no ralo, não é sobre isso que eu quero falar! Nem que fosse da tua competência, hipótese improvável quanto inglória. Terias que delega-la, pois a vivência alguma não poderias recorrer em prol da justeza do teu arbítrio. Nada sabes dessas mundanidades, a ti interessando mais as asceses (em casos como o teu, sempre há mais de uma – ao menos, três, para ser rigoroso: o desejo, o saber e a paz. Por isso, o plural).
Os assuntos se intercalam, desfilando graus diversos de proba dignidade e vil degradação, sem que te aflijam, nem quando és interrompido pelo som de aplausos. Desafias célebres teorias, forjadas dentre os maiores gênios humanos, como se não fossem páreo a ti, uma indelével parceria com o Divino a te proteger do erro. Mesmo ao comentares as estruturas mais perversas, tua língua não se debate, tua boca não pragueja; encurva-se ao palato, como em oração, prepara a vocalização certeira: Não!
Não haverás de tolerar a desarmonia numa tua apresentação. Não. Teu passado sinistro não há de emergir desde a viscosidade pantanosa da vereda em que o encerraste. A não ser que... Pois então sinta, a título de ilustração (ah, como o tom professoral caberia melhor se dito do púlpito de teu cientificismo místico!), o escorrer frio do lodo pelas tuas pernas, despenhando-se do períneo, por osmose. Teu suspiro mais forte, uma tosse, um gesto atrás da orelha, vai!, tenta, em tua desesperança, chamar a atenção da platéia!; não permitas que sintam o cheiro fétido, que te surpreendam já as meias enlameadas. Não te mexas abaixo da cintura, perderás mesmo os sapatos. O couro nunca mais se recomporá. Reze agora pelos pés.
Como sentes?
Moralistas de merda, temos aos borbotões. És mais um, só.

3.5.07

FENO

Chamaram-me escuso,
acusaram-me fenda no caráter
sabidamente pleno

Não sou cavalo, escuso
mas não me suportem
em seus baluartes

Não fui de entregas
nada concedi
Subitamente, me escondi no feno
E fugi