3.5.05

MORTE

Um dia meu corpo inerte estará entre meus irmãos. E não lhes dirá mísera palavra. Sequer “não chorem por mim, que assim fico triste”. Nem os traços de meu rosto; minha última expressão nada expressará. Meus antigos segredos nela não estarão. As explicações que eu prometera dar um dia, tampouco. Calarei para sempre meus não-ditos.

Pena... Porque, ali, bem ali, terei certeza. Ironias do destino ou paradoxos da existência? Bem quando eu poderia revelar, tornar mais transparente o universo, explodindo sua verdade aos sete mares e aos quatro ventos, emudecerei, trancafiado numa casa de madeira.

Sim! Será uma casa de madeira, sem janelas e sem fechadura, a espectadora privilegiada dessa soturna letargia. E da orgia - que sempre se segue – encarregada de me tragar, para depois delatar a terra.

Quando era criança, sempre sonhei em morar numa casa de madeira, daquelas pré-fabricadas, com teto em estilo suíço. Depois, fui descobrir que aquele formato fora criado para fazer escorrer rapidamente a neve, algo que não se vê nesta porção do hemisfério sul.

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