6.4.05

RIMA

Pediram que calasse, e que não ousasse dizer coisa qualquer.
Uma tristeza de poucos ais, uma alegria calma, um suor sem gastura. Não.
Que não fosse por dinheiro, por poder, que não fosse por mulher.
Que não gritasse por uma unha quebrada, um joelho ralado, um vermelho na urina.
Que fosse amargura, úlcera péptica, câncer terminal. Que suplicasse morfina.

Pediram que fosse ao fundo, que trouxesse arsênico entre os dentes.
Que desafiasse o bom senso, o comum, o médio, o mundo.
Que não pensasse em amigos, colegas, amantes, parentes.
Que soubesse bem onde meter o rabo, e escolhesse apenas a dor.
Porque, no final, só haveria a única, a rima: amor.

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