28.3.05

TEMPO

Não confio no tempo, meu vizinho, que larga dejetos no corredor. Porque sempre chega tarde, barulhento. Porque desconhece a parcimônia e a temperança, as duas virtudes cardeais.

Um dia, chegava eu de uma noite sem lua e sem final, quando, de repente, ouvi sua porta abrir. No vão do batente, havia um vácuo, um nada, um ninguém.
Como se abrira a porta?
Aproximei. Por pouco tempo, senti cheiro de nada, cheiro de ninguém. Depois, havia um bafo de cachaça, um tanto forte.
Lá dentro, nada, ninguém. Só o espelho embaçado.

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