11.10.05

CAIPIRA

Da transversa se disseminava uma pasmaceira doce. Cá, onde já fumávamos as cigarrilhas aos pares, tão lindas eram as cinzas vertidas no calçamento, e tão bem cozidas as fumaças que abrumavam, a dor ainda era lenta, quase perdida – uma dor de cabeça debaixo de um chapéu de palha.
A poeira não era mais da secura da areia, do calcário, do limo, da argila. Era mais dura e melosa; indícios da cidade grande.
A pangaré puro-sangue mascava um capim quase seco, com cara de ontem, que graça não devia ter mesmo nenhuma. Mas dera de ser assim, oras bolas, o que mais a bicha haveria de fazer?
Fazia graça de nós, tremelicando às vezes uma porção pequena da anca marrom pra espantar algum mosquito. Mostrava como se fazia sem fazer, sucedendo algo sem deixar a passividade.
Apeada, olhava dentro dos olhos nossos, mascando também o tempo.

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