22.8.06

PAVÃO

Sempre soube quem eu era, ralhando com a mixórdia do autoconhecimento, não poderia me perder em ti. Vivera tão bem até então... Até que... não. Fugazes ficaram as botas amassa-barro do destino, aquele espírito zombeteiro, como constante já ficara anteriormente o monóculo do fim-de-linha, um caboclo de Minas sempre pronto à perfeição, mas renitente com o porvir.
A brincadeira do bicho pavão era exibicionista. O pastor jejuava três dias, às vezes quatro. Não traçava nem a mulher, que – diziam – ia dar com o açougueiro. Mas no quinto, o homem comia o bicho, sem piedade. Refestelava-se naquele inocente, crendo sua consciência banida de culpas. Adiantava? Esse era mesmo o amor: os punhos brilhantes, a carne bem temperada e cozida, no prato, depois na boca e em volta da boca. Os olhos ardentes, a fome dilacerante. O gozo, quase uma zoofilia, de dizer ao corpo: “calma, era brincadeira...”

Nenhum comentário: