AMOR (2)
A doida esquálida na passarela?
Nada disso. Meu amor é de compleição maciça, carnes fortes. Quase bélica, violenta.
E passa rápido como raio – nem me vi.
Espero dela o que deveria vir do sol – a luz solar.
Estranho, ela se põe do lado oposto, quase inteira. Aurora boreal obsedada.
Parece que me acompanha, mas diz que é ilusão. Que ela fica lá mesmo – sabe o sol? – enquanto vago em torno.
Um culto ruidoso, veneração gratuita, um fascínio fenomenal.
Todas as letras de um nome composto: ela.
Tudo me deixa em cacos, cego. Diminuído, longe do que querer: melancólico. O sono vem na hora errada.
Não temo, porque o amor só liberta quando escraviza. Quando é de declarações e presentes exagerados. Quando toma por inteiro e faz de mim outra coisa. Quando é, também, devoção. Quando não importa a cor do cabelo, o esmalte das unhas, e não enoja um canto de boca brilhando de maionese.
Bem lembrado, nada pesa mais que um sentido. Na busca por ele, se mata e se morre, se passa uma vida labutando de sol a sol, se escreve poesia e memorandos, cartas de adeus, se geram filhos.
E se ama uma mulher. Simples e direta, eterna e profundamente.
Uma mulher que podia perfeitamente ser apenas mais uma, e até é, mas que, misteriosamente, enche com flores o odioso vácuo da vida.
15.5.04
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