3.6.04

CONFLUÊNCIAS

Tomaste um toco, amigo meu?
Repensaste a vida naquela hora?
Nada fez sentido? Entendo. Tão normal...
A um passo do momento em que parece que podes tocar as luzes, desfazer os nós, romper amarras, e o chão sobe correndo até bater a sua cabeça.
Dói muito. Aquele estalo seco, aquela aflição.
Puseste o medo na pauta da tua próxima ilusão? Haverás de considerá-lo, sob pena de expulsão do mundo dos vivos.
Não há nada de errado contigo, fora o de sempre; o destino é que dorme no ponto.
Saíste sem bater a porta, aquela diaba? Barulho?
Viverás mesmo este estar consigo constante, este saber sem tema, implícito, até que a morte te separe de ti.
Esperaste o bastante? O suficiente, ao menos?
Não tens o dom de fechar feridas, não queiras inventar moda. Há questão de merecimento, mas somente em outro nível. Aqui, não. O que entope aqui são confluências. Nem acaso, nem mérito: um pouco de tudo é igual a nada. A boca seca e o falar estúpido influem; porém, o tempo, alheio ao teu querer, também. Tua condição de vida pouco invejável atrapalha; não mais, contudo, que os caprichos de um coração que não dominas.
A admissão das confluências é catártica, exorcizante. Deprime, o que é bom, aliviando pesos da alma.
Fugiste? Se não, aproveite e fique por aí. O mundo gira. Tua vida não é. Tua vida é estar sendo. Cada passo teu, cada cinza fora do cinzeiro, cada sol e cada frio, cada gesto pequeno, tudo muda a confluência.
Quem me dera pudesse te prometer, fazer um compromisso taxativo! O imponderável é da natureza das confluências...
Mas – quem sabe – outra hora vem, daquelas de tocar as luzes, desfazer os nós, e te encontra em outra conjunção.
Ninguém nasceu pra ser feliz, mas, talvez, um dia tu venhas a ser.
Até lá? Tu escutas o ranger das portas, os passos de tamanco no corredor. Tu enxergas as paredes se acomodando, espaços mudando de lugar. Tu sentes o calor dos dias frios, a intenção das paisagens.
Ficarás sozinho por seres único. Porque, a partir de agora, só tu saberás o que todos esperam: confluências.

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