26.6.04

FEIRA LIVRE

Na feira livre, de óculos escuros.
As cores e os cheiros (se pudesse sentir os cheiros). Berros improvisando melodias apressadas. Já tarde, quase meio dia. Hora de sujeira.
Senhoras de alguma idade, vida sem nexo, nem sexo - seu orgasmo semanal. Jovens donas de casa desfilando belezas improváveis, opulentas e gostosas, belezas de chinelo e camiseta desbotada de Cândida. Na barraca ali, como que abusando da atenção que chamam, provam doces maçãs, muito mal lavadas, e tentam o feirante tarado.
Numa esquina, o homem da tapioca, calça de linho e camisa de botões. Impávido, nem nota a turbe. Homem respeitador.
Noutra, o não-autorizado vende alho, limão, maracujá – pequenos e singelos aviltes ao erário.
Calma lá! Um congestionamento de carrinhos. Todas olham pra baixo e procuram não enganchar as rodinhas. Algumas têm pés lindos.
A feira tem fruta, tem legume, tem verdura, tem ovo. Mas tem brinquedo, água de coco, lingerie, queijo, macarrão para fazer yakissoba, homem que conserta panela, homem que conserta máquina de costura, pastel, caldo de cana, ímã de geladeira, toda sorte de temperos, erva para emagrecer, erva para curar, erva para ir ao banheiro.
A essa altura do campeonato, a dondoca que se recusa a acordar cedo encontra a moça do cortiço que espera em casa o preço da feira baixar. As duas mastigam, lado a lado, na barraca do pastel. Na feira tudo é meio relativo.

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