3.4.04

DESIDÊNTICO

O engenheiro da empresa era viado. E tinha dentes sensíveis e cócegas nos mamilos.
Primeiro morreu de febre. Depois voltou e foi visitar a ex-mulher, moça semivirgem. Puxou o pé do homem que dormia desavisado com ela. Depois achou que ali não era pra ele. Foi tentar a morte em outro lugar.
Ao chegar na Capital, foi ter com seu Barreira, amigo da família, que lhe foi pouco sutil e insinuou uns empecilhos:

Se você tivesse nascido gênio, filho da tua mãe, se fazia sem esforço. Mas é burro como o asno. Precisava mais dominar a malandragem.

Ele acabou ficando mesmo assim. Contaminando o espaço público, errante. Agora sabia ter ilusão nenhuma. Fez uma barriga nascer com ele de novo.
Soube da guerra, quis brigar. No posto de alistamento:

What’s your name?
My name is... I don’t know my name. And I don’t remember my first time. And I don’t have a second chance. And I don’t even know where I’m going now. I have lots of dirty thoughts, and I don’t know where they’re coming from.
OK, boy. No hard feelings. Just kidding. Nothing’s gonna change anyway.

Voltou pra casa da ex-mulher, que desta vez não o reconheceu.

Quem é?

Não deu de responder.
Ela quis se deitar com ele, não devia ter feito isso. Ele se sentiu tão traído que a dor na espinha até passou. Quis pegar a primeira faca que visse pela frente, mas estava completamente cego. E não era de raiva. Até com ceguinho a vagabunda andava se esfregando - pensou.

Até chorei ao pensar que o coitado não conhecia mais o amor. Parecia que era comigo. Também morri de febre uma vez. Também me apeguei a uma estupidez e também fiquei cego.
Sendo ninguém, a nós só resta o caráter. Somos armaduras que andam, vazias.

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