15.4.04

PETELECO

Consiste em fazer com que a ponta do dedo indicador toque as costas do polegar de maneira que, após um átimo de atrito, o indicador seja liberado com força e velocidade suficientes para atingir algo que esteja à sua frente. Você nota um inseto andando na sua calça e lhe aplica um peteleco. Ou uma migalha de biscoito cai sobre a mesa de trabalho e você, porco do jeito que é, faz uso de um peteleco para lançá-la ao chão.
Entendida a mecânica, convém agora dizer que não são muito efetivos com líquidos. Se, ao invés da migalha, você deixar cair sobre a mesa uma gotinha de café, de nada lhe servirá o melhor dos petelecos. Por mais porco que você seja, sabe que a gotinha continuaria ali, apenas um tanto desfigurada, resistindo bravamente à sua pouco louvável iniciativa de manchar o tapete.
Petelecos também não são lá muito amigos de coisas duras e pesadas. Teve alguém que ganhou um hematoma – e quase perdeu a unha – depois de petelecar distraído um enorme cinzeiro de vidro. Bem sabido: petelecos são armas brancas de baixo poder lesivo.
Por exigir, na sua execução, apenas um dedo indicador e um polegar opositor, é possível intuir que o peteleco tenha sido criado há alguns milênios, por ancestrais do homem moderno, e figure, ainda hoje, como um dos raríssimos universais humanos.

Há um mosquito sobre a coxa esquerda de dona Mirtes, que é tetraplégica. Ela pode vê-lo, mas é só o que pode fazer. Será picada e contaminada por um parasita terrível.
Com a saúde já debilitada, dona Mirtes não resistirá à doença, e falecerá dentro de 6 dias.
Entendeu agora?
Um peteleco a teria livrado da morte.

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